quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Ary Barroso



Ary Evangelista Barroso nasceu em Ubá, no dia 07 de Novembro de 1903. Aos 18 anos, com uma herança de 40 contos de réis, muda-se para o Rio de Janeiro, para fazer a faculdade de Direito.
Foi seduzido pela música e pela boemia - o que lhe levou seus 40 contos em dois anos, e quando terminou sua faculdade de direito (9 anos depois), já era um músico respeitado e gravado pelos maiores intérpretes da época. Como radialista, criou o famoso Hora do Calouro, onde despontaram alguns dos maiores nomes da MPB, como por exemplo, Dolores Duran - que cantou uma música em inglês, com a perspectiva de um deboche de Ary Barroso, na época em plena fase do samba exaltação. Ary não só gostou como elogiou publicamente o jeito doce daquela menina cantar... Como compositor, nunca hesitava em substituir uma letra quando tinha certeza que a sua podia ser melhor. Foi assim quando, ouvindo Lamartine cantar Na Virada da Montanha (Na grota funda / Na virada da montanha / Vai haver muita façanha / Com o mulato da Raimunda), Ary escreveu, ali mesmo na mesa, a letra de um de seus grandes sucessos, No Rancho Fundo.

Ary foi o nosso porta-bandeira no exterior - foi o primeiro compositor brasileiro a ser ouvido e respeitado nos EUA - Aquarela do Brasil, sua mais famosa composição, é considerada um hino popular do Brasil e faz sucesso em todo o mundo. Morreu no Rio de Janeiro em 09 de Fevereiro de 1964.

Discografia selecionada:

1953 - Orlando Silva canta Ary Barroso - Primeiro Lp com suas músicas. Raridade absoluta;
1954 - Sílvio Caldas canta Ary Barroso - Rádio. Outra raridade.;
1956 - Ary Barroso pelo Trio Surdina - Polydor. O Trio Surdina foi talvez a mais importante formação instrumental dos anos 50. Tinha três gênios absolutos: Fafá Lemos no violino, o lendário Garoto na guitarra e o eterno parceiro de Radamés Gnatalli Chiquinho do Acordeon. O disco é datadaço com a estética da época, mas talvez esse mesmo seja seu encanto; LPs
1956 - Encontro com Ary - Copacabana. Jóia rara. Idéia brilhante, traz para o disco o clima do programa de rádio onde Ary, sentado no piano, tocava suas músicas, arriscava cantar uma que outra coisinha e, principalmente, confirmava sua fama de excelente papo. Dá de dez em qualquer Unplugged da MTV;
1957 - Garoto, Orquestra e Coro tocam Ary - Odeon. Garoto foi o maior violonista de seu tempo, um inovador dito por muitos como precursor da bossa-nova. Também fazia parte do já citado Trio Surdina;
1958 - Ary Caymmi & Dorival Barroso - Odeon. Produção de gênio da Aloysio de Oliveira, para seu selo Elenco. Metade das faixas tem o piano econômico de Ary acompanhado de baixo, bateria e percussão, tocando as maiores pérolas de Caymmi. As outras trazem o baiano, voz e violão, mostrando versões personalíssimas de sambas-canções de Ary. É luxo só; Foi relançado em CD como um dos discos da espetacular caixa com todos os LPs do Caymmi.
1959 - Meu Brasil Brasileiro (c/ Orquestra de Ary) - Odeon. A Orquestra de Ary Barroso, uma das melhores que esse país já teve, arranjada pelo gênio de Léo Peracchi. Esse LP que é inacreditável por vários motivos. Apenas dois deles são a estupenda qualidade de gravação e o arranjo de Na Baixo do Sapateiro - muito à frente de sua época e de dar inveja ao Stan Kenton. De brinde, o piano enxuto e malemolente de Ary. O disco tem um ou dois corinhos safados, mas são coisas dos anos 50, fazer o quê;
1962 - Dois Amigos: Ernani Filho canta Ary Barroso - Odeon. Ernani foi um dos maiores amigos que Ary teve no final de sua vida. Muito mais jovem, foi infrutiferamente apadrinhado pelo velho. Mas não cantava mal, não;
1989 - Ary Barroso - Série Grandes Autores da MPB - Polygram;
1993 - Ary Barroso - Fundação AABB (lp triplo). Esse você vai ter de se virar pra achar, mas vale à pena. O disco não teve lançamento comercial, e a Associação Atlética do Banco do Brasil distribuiu como brinde de fim-de-ano. Mas só as faixas com o cantor Roberto Paiva já valem a procura. Paiva - como bem lembrou Caetano no encarte de Tropicália II - é o elo perdido entre Mário Reis e João Gilberto, e, na época da gravação, ainda estava em plena forma. Além disso, vários dos músicos que acompanham os cantores foram da orquestra do próprio Ary. Peça pro seu gerente vasculhar os arquivos do Banco senão você cancela a conta.
Cds 1980 - Aquarela do Brasil - Songbook de Ary, pela Gal Costa. Relançado em CD, é um primor de bom-gosto. Gal optou pelo lado mais moderno do compositor, com versões quase pop em alguns casos, mas sempre acertadas. A sua interpretação de Faceira só não é definitiva por causa da original, com Sílvio Caldas e o baterista Luciano Perrone esbanjando malemolência. Quando saiu, o disco vendeu muito e tocou horrores no rádio, lembrando a muita gente quem tinha sido Ary Barroso;
1991 - Ary Amoroso - Sony. Songbook de Ary, pela divina Elizeth, gravado pouco antes da morte dela. Também relançado em CD. Imbuída da sua magistral elegância, Elizeth chamou Rafael Rabello, Maurício Carrilho, Marcos Suzano e uma turminha desse calibre pra fazer com ela um disco definitivo. Se você só puder comprar um disco pra sacar Ary, nem pisque antes de escolher esse. Sem dúvida, o próprio faria o mesmo, ele que passou a vida enchendo Elizeth de elogios - não só musicais, diga-se de passagem. O medley de Caco Velho com Na Batucada da Vida é de arrancar todos os dentes da boca. Só tem à sua altura a versão de Elis - do álbum Elis, de 74, que também vale uma escutadinha.
1993 - O Mais Brasileiro dos Brasileiros - Revivendo. CD. Pra quem tá a fim de gravações originais de época, a pedida é essa. As maiores pérolas de Ary, gravadas entre o final dos anos 20 e os 40. Só a lendária gravação original da Aquarela com o Arranjo de Radamés vale a compra. Mas tem muito mais. Seria a segunda opção, depois de Ary Amoroso;
1995 - Songbooks Ary Barroso (3 CDs) - Lumiar. Uma beleza em três volumes. Tem os melhores nomes da MPB, de Tom Jobim e Dorival Caymmi a Dino Sete Cordas e Carmen Costa, cantando um repertório que vai dos standarts mais óbvios até músicas quase desconhecidas de Ary, arranjadas pelos maiores craques do ramo. Discoteca básica. É, disparado, um dos melhores trabalhos da gravadora-editora Lumiar.

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